quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Das crises e dos desejos

Eu falo de meus sentimentos com uma facilidade enorme. E isso não é uma vantagem. Ser "transparente", às vezes, requer de você um jogo de cintura maior do que o necessário. Uma vírgula colocada no lugar errado, um ponto final sem necessidade, as reticências temporárias, os pontos e vírgulas errôneos são uma tortura sem fim. Celular no bolso, minutos que passam rápido, falta de abraços e de surpresas. O dia-a-dia toma de você o pouco que ainda resta de prazeroso.

Se eu não tenho dinheiro, não consigo pensar em outra coisa senão nas dívidas; se tenho dinheiro, começo a pensar nos investimentos que quero fazer. Se minha agenda de trabalho está lotada, não tiro nenhum minutinho para meu intervalo; se ela está livre, vou resolver outras coisas que surgem. Se estou com sono, não consigo agir e raciocinar como deveria; se estou descansado, aproveito a energia para correr contra o tempo. Se recebo reclamações, arrumo minhas desculpas para não ser somente o errado; se reclamo, tenho motivos para fazê-los - mesmo quando me torno enjoado, exagerado, minucioso e detalhista.

Se falo, não falo. Me calo! Cansaço, desleixo e cansaço. Preguiça, rotina e cansaço. Um dia aqui, o outro ali. O coração dói, lateja e se acostuma. Você aprende e se torna igual. E ser igual é péssimo! O que me destaca? Os meus 1,80 metros? O meu sorriso bonito? Os braços e pernas fortes? Afinal, sou feito de quê?

Queria poder enxergar além da barreira. Ser feito de amor é o que importa. É o que, no final, sobra! Sozinho, basta nascer. Ninguém nasceu para ficar sozinho. Dar, doar e receber. Receber, dar e doar. Um pouco de mim, um pouco de ti. Um pouco de todos nós. Quando será que perceberemos para o que fomos feitos? Para que servimos? Para quê viemos?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Quando o ócio é criativo

Na maioria das vezes, tendemos a viver e a pensar sobre as angústias e as incertezas da vida. Não pode sobrar um segundo ocioso, e os pensamentos se misturam com agitos, inquietudes, especulações e medos - pouco depois das aspirações e sonhos. O mesmo medo que nos encaminha à insegurança e à [baixa] estima. Quando percebemos, a coisa já tomou proporções gigantescas, e aí então, temos que saber lidar com tudo o que tem se passado.

Não basta querer viver um dia de cada vez. Não tem como - ainda mais quando você é uma pessoa que vive para agradar, para fazer, para doar, para tentar surpreender. É imprescindível pensar no outro sempre que se pensa em você mesmo. E isso é ótimo. É um dom! Desde quando traz benefícios para ambos, e não só para o outro. A reciprocidade sempre é uma boa escolha. Fato é que a confiança é um presente de Deus. E esse é o meu melhor presente. Se não há confiança, não há relacionamento. Não há amizade, não há namoro, não há afeto.

Partindo desse pressuposto, os dias ficam mais leves, mais simples, mais belos. É um segundo de risada mais gostosa com os amigos, um lanche que voa na hora do intervalo de 45 minutos, que eram para ser 15. A ida pra o trabalho se torna menos penosa, o dia passa mais rápido, literalmente. A saudade aumenta e a chegada em casa, por incrível que pareça, se torna ainda mais prazerosa. Então, você começa a perceber que tem que se cuidar mais e que, de alguma forma, tem que pensar mais em você. Por que, afinal, tudo isso depende só de você. Do seu estado de espírito, dos seus desejos, da sua força de vontade, do seu querer, dos seus gostos e afinidades.

A melhor forma de aproveitar o tempo ocioso, acredito, é saber ocupá-lo com as coisas que te deixam bem, à vontade; que te fazem ficar mais leve, menos preocupado, menos apreensivo. Deixar que, às vezes, as coisas simples passem em branco [por mais que elas tenham significado para você]. Começar a agir de acordo com a maneira com que os outros agem com você - para que não haja decepção e para que não esperemos o que o outro não pode te dar, por mais que você ache aquela a tarefa mais simples já delegada a alguém. É leve, frio, gostoso. É criar o que verdadeiramente importa na vida!