sexta-feira, 31 de julho de 2009

As escolhas na contramão

Ações, complementações, vivências, experiências, filtro. A vida é feita de escolhas, e nós utilizamos as nossas vontades da forma mais simples e prática que conseguimos. Se eu quero ir à sorveteria no meio da tarde, eu arrumo um jeito e vou. Se eu quero dormir mais cedo, eu nego todos os convites e caio na cama. Se eu quero sair para dançar, eu saio e me distraio ao máximo. Se eu quiser aceitar um convite para jantar, não penso nem duas vezes. Se quero viajar no final de semana, convido alguns amigos e vou. Se quero visitar meus pais, me viro em três e consigo tomar o rumo. A questão é: As nossas escolhas dependem de nós, apenas de nós. Mas aí começo a pensar: o quanto isso é verdadeiramente dessa forma?

Em um tempo bem remoto, cheguei a aceitar convite de amigos para as baladas exageradas e rotineiras mesmo sem querer. Saí da cama no meio da madrugada para cuidar do conhecido que tinha saído do boteco bêbado. Viajei para o interior para agradar meus pais, mesmo tendo a oportunidade de fazer outra viagem. Sorri para o amigo triste, mesmo querendo chorar. Me calei diante da vontade do outro. Passei por cima de princípios e valores para tentar agradar. Proferi palavras infames, mesmo não me sentindo à vontade. Falei o que você queria ouvir, apenas para te ver satisfeito. Eu carreguei o peso nas costas, e deixei os outros leves, soltos e tranquilos. Eu briguei por ideais que não eram meus. Eu me fingi forte, para não incomodar. Eu enfrentei tempestades, e me fiz fortaleza. Eu engoli vespas, e não consegui digeri-las.

Sei que não é só comigo, e que tudo na vida é fase. E me remeto a isso com uma segurança de novos tempos, de vontades iguais e de sonhos compartilhados. E volto ao foco resumindo: muitas vezes, eu fiz o que os outros queriam, exigiam, esperavam, e deixei meus limites de lado. Não acho que isso tenha sido de todo ruim, ou até mesmo que seja um problema. Mas sei que hoje vejo as coisas diferentes, e por um ângulo mais calmo, mais seguro, mais sensível. Faço o que quero, e faço com vontade. O sorriso é mais sincero, o coração é mais calmo, as pessoas se sentem mais próximas, menos preocupadas, e eu me torno completamente alegre.

Aí entra a questão contraditória, e até mesmo complementar. Eu ainda 'abro mão' para algumas coisas, ou para todas. Mas abro mão com a consciência de que eu me sentirei bem com aquilo, e que é realmente o que quero fazer. O amigo que me convida para ir à boate matar a saudade, ou jogar conversa fora e rir das situações ganha minha companhia, mesmo estando cansado e preferindo uma noite de sono. Se meu companheiro quer ir à boate uma, duas ou três vezes por semana, eu serei um excelente companheiro, porque abro mão para ver ele satisfeito, e porque sei que isso refletirá em mim. Se minha amiga quer que eu deixe de ir a algum lugar porque ela quer minha companhia, não penso nem duas vezes; "estou com ela e não abro"! Se o sol está escaldante na manhã de quarta-feira e o convite para o clube é feito, saio da minha confortável cama para aproveitar algumas horas de diversão.

Com isso, vejo o quanto é importante viver; viver de verdade. Como é bom abrir mão de preceitos, vontades e comodismos para acompanhar uma pessoa querida, um amor, um amigo, a família. Como é bom ganhar novos ares e renovar das maneiras mais improváveis possíveis. Como é bom dar um voto de confiança e se jogar, arriscar, cair, levantar. Como é bom abrir mão do dia a dia, do mau tempo, do conflito, do cansaço, da preguiça. Como é bom ser notado, ser reconhecido e ter com quem contar. Como é bom ver o sorriso de gratidão, de bom senso e de acolhimento. Como é bom saber que se é útil, querido, escolhido, lembrado. Como é bom abrir mão das mazelas, e dos erros. E eu continuo com a certeza de que sempre abrirei mão para o que for preciso...

quarta-feira, 29 de julho de 2009

[quase] Um basta!

Cansei de esperar dos outros. Cansei de me preocupar com as coisas que ninguém se preocupa, e que só eu insisto em importar. Cansei dos outros me julgarem. Cansei de sentir as dores que só eu sinto. Cansei de sofrer com o que vem, insiste em me atingir, em me derrubar. Cansei de ficar preocupado com o futuro, com o que vai acontecer. Cansei de trazer comigo as vontades que só eu tenho.

Cansei dos tombos, das porradas, dos infortúnios. Cansei de tentar levantar e continuar andando. Cansei da inveja dos outros. Cansei das minhas coisas engraçadas. Cansei da vontade de continuar tentando. Cansei de esperar, de imaginar, de vislumbrar. Cansei dos outros em mim, e dos outros comigo. Tenho cansado da vontade de completar minhas andanças, e de tentar chegar a algum lugar.

Cansei de dizer eu te amo, e de não sentir ser amado. Cansei de sofrer com antecedência. Cansei das minhas inseguranças, e do meu dia a dia. Cansei do achar, do projetar e do recorrer. Cansei dos outros não me conhecerem, e falarem de mim como se eu fosse sua propriedade. Cansei de aparências, e de achismos. Cansei do abuso e da falta que sempre senti. Cansei do bom dia sem resposta, cansei do sorriso cansado. Cansei do entusiasmo de outrora.

Cansei de doações e de complementações. Cansei de dizer, de escrever e de reler. Cansei de fazer por esperar; e de esperar todo tempo. Cansei de não me cuidar, e de me preocupar com aquilo que não me pertence. Cansei de sonhar e de acreditar. Cansei de sentir, de pressentir, de buscar. Cansei de acreditar e esperar que dure mais que um dia, mais que um mês, ou um ano. Cansei de achar que o problema é comigo, e que todos estão certos. Cansei de acreditar que sempre tenho uma parcela de culpa. Cansei de ser submisso e de aceitar o que chega.

Cansei de cansar pela segunda, terceira ou quarta vez. Cansei de saber que a vida é assim! Cansei da vida em si. Cansei, e agora ficarei quieto... cansando com o trabalho, com as cobranças e com as responsabilidades. Cansei de caminhar sozinho, e cansei de saber que não nascemos para seguir solitários.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Um brinde às surpresas!

Eu sempre fui muito carente, e isso é fato! Quando era criança, não saía da 'barra da saia' da minha mãe. Meu pai nunca gostou de sair; trabalhava o dia inteiro, e quando chegava em casa, não atendia nem o telefone, que insistia em tocar ao seu lado, ali na mesinha... mesmo assim, não adiantava nem esperar um movimento dele para aquela ação. Corríamos como uns doidos, eu e meus irmãos, para finalizar o repetido toque do telefone. Então era assim: eu e minha mãe na rua o tempo inteiro, e meu pai descansando em casa, com meus irmãos jogando videogame. Minha mãe me conhecia como ninguém. Ela sabia o quanto eu gostava de surpresas. Se era uma balinha, ela mirabolava uma forma mágica para que eu tivesse a surpresa de ganhá-la; e isso era uma coisa que me acompanhava rotineiramente.

Eu sempre gostei de surpresas! Quem nunca gostou, afinal? Eu sabia que não existia Papai Noel... eu sempre soube. Mesmo assim, ganhar o presente de Natal à meia noite, ao pé da cama, às escondidas, pé ante pé, era muito melhor do que recebê-lo das mãos dos meus pais. O par de roupas impecavelmente na moda engomado no pacote brilhante era um toque de sensibilidade imenso. Os cafés da manhã aos domingos, antes de ir para a missa, era uma surpresa já esperada. A viagem do fim de ano era comunicada quase em cima da hora. Quando era criança, essa sensação estava comigo o tempo inteiro... Afinal, essa era uma das poucas constantes na minha infância.

Eu era (sou) esperto! Foram três tentativas de fazer uma festinha surpresa no dia do meu aniversário, quando ainda morava no interior. Era cômico, era engraçado, era estranhamente sensível... Minha mãe combinava com a diretora e a professora, e durante a aula eu era chamado para um telefonema sem nexo na sala da diretoria. Não precisava de muito; já saia da sala rindo. Outra vez, me levaram para visitar uma tia, tomar um sorvete, 'admirar a cidade' antes de uma provável saída para a sorveteria, onde iria comemorar com alguns amigos mais íntimos. Saía de casa impecavelmente arrumado e pronto para a mudança de planos. Depois, uma tarde no clube, já que era sábado, mas chegava em casa limpo e com a camiseta amarela nova, que destacava o bronze detalhadamente adquirido. E eu ainda conseguia fazer aquela cara de surpresa. A melhor sensação era olhar para a minha mãe e ver que ela tinha conseguido o que queria.

Então a gente cresce! Os compromissos aumentam, as horas passam mais rápido, os trabalhos consomem, as noitadas nos cansam, os objetivos mudam, a juventude vai passando. Mesmo assim, as surpresas se fazem presente. É como eu sempre digo: tudo é questão de prioridade, de carinho, de afeto. Me recordo do único aniversário surpresa que conseguiram fazer. Fui chamado para um churrasco, no final de semana anterior à semana do meu aniversário. "A minha família virá, passaremos o dia aqui". Não desconfiei de nada; não esperava aquele presente. Todos os melhores amigos reunidos para celebrar mais um ano de vida. E eu fui inocente; talvez porque seja realmente uma das poucas pessoas de quem eu não duvido, acredito em tudo que diz. Eu estava tão ansioso para passar o dia lá, que não reparei nem nos carros na porta com o adesivo de 'jornalismo-UFG', ou do Cross Fox amarelo tão conhecido. Quando abri a porta, estavam todos lá... e eu não sabia o que fazer.

Agora as surpresas se resumem a coisa boas, coisas gostosas. E há tempos não as recebia, não as presenciava, sequer sentia-as. Em um dia qualquer, de uma noite qualquer, com a sintonia de um beijo qualquer, sem a expectativa nenhuma, eis que aconteceu. Uma surpresa na minha vida... uma surpresa que se transformou em todas as outras coisa boas que tem acontecido. Resumo-a no seguinte: depois de uma noite no cinema, na companhia de novos amigos, ao chegar em casa, pronto para uma noite de amor e de bom sono, ali estava a caixa de Diamante Negro, muito bem escolhida, e uma 'lembrancinha' sentimentalmente embrulhada, um beijo gostoso, os olhos marejados, o coração acelerado. Uma surpresa que me fez pensar em todas as outras da minha vida! Uma surpresa que me fez querer escrever, agradecer, completar, viver, sorrir... Uma surpresa que me fez querer surpreender! Um brinde às coisas boas da vida!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Não são meus problemas

Começo a pensar o quanto somos vulneráveis. O quanto somos enganados. O quanto as pessoas são maldosas. Começo a me questionar qual o verdadeiro sentido de existirmos em sociedade, e a refletir sobre as várias questões humanitárias e inúteis, que desde a existência do homem, são presentes no dia a dia de qualquer um. Logo depois, ao sentar na cadeira desconfortável do trabalho, entre um intervalo e outro, entre um login ou um download, desisto de tentar entender essas questões. Não adianta! Nós nunca entenderemos o quanto somos diferentes, e como devemos ser submissos a (quase) tudo. É uma cadeia, uma pirâmide, castas, colocações, posições. Porque a relação empregado-subordinado não pode ser agradável? Se eu não tenho 500 mls de silicone nos peitos e na bunda, se eu não me insinuo, se eu não 'puxo saco', eu não sou um bom funcionário. Salvo as exceções, vejo, presencio e convivo com isso todo o tempo.

Ser hipócrita, hoje em dia, é uma coisa rotineira. As pessoas, às vezes, não querem ser sinceras, não querem agradar, não querem, ao menos, ser educadas. Qual o problema em reconhecer o trabalho do outro? Em aceitar que o outro tem qualidades a mais do que eu? Que o outro pode ser competente tanto quanto eu? Se eu sou feio, desarrumado e fedido, quase ninguém me olha, me percebe... mas o contrário te faz um burguesinho bem relacionado, simpático, visível, um ser extremamente notável e agradável. E digo isso porque eu nunca me preocupei com essas coisas - não com esses pressupostos; e porque eu nunca fui engajado. Nunca! Militâncias, problemas relacionados ao mundo, aos instintos, ao psicológico, ao meio ambiente, aos outros... nada me preocupou, me preocupava e acredito que nunca preocupará! Então isto tudo serve como um desabafo. É inacreditável!

No início do dia, ao realizar as minhas rotineiras leituras, visito o blog de uma amiga e participo de um dia em que ela relata a militância em Brasília, quando ela percebe essas características ao cobrir uma matéria que teria que fazer. Mas não quero fugir do foco... O fato é: eu, que nunca fui preocupado com isso, hoje me vejo extremamente chateado com essas relações, com as injustiças, com a prepotência, a arrogância. Não vejo o porquê de ser necessário a existência disso tudo. A máxima da 'igualdade para todos' nunca foi uma verdade. Aparência, atitudes, insinuações, posições, status sempre foram ponderantes - nada mais óbvio, claro.

Uma pena mesmo é saber que não há estimativa de mudanças, não há, sequer, esperança. Trabalho bem feito, dia cansativo, doação, concentração, estresse. As recompensas virão? De certa forma sim, mas isso não muda o fato de passar por humilhações desnecessárias, de viver problemas que não são seus, de ver e ouvir coisas horríveis. É inerente ao ser humano, eu sei, mas se pudesse, sumiria de vez! Não como sintoma de fraqueza, ou de impotência, ou até mesmo de covardia... mas sim de angústia, de sentir os pés e mãos atados, de não saber para onde correr, de saber que não há como mudar o mundo! Um tanto de vivências, de verdades, de mentiras e de criações. Um tanto de mim, um monte de você!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Lições e missões

Eu aprendi que pai e mãe são os nossos melhores amigos; mas que podemos somar a eles outros grandes amigos. Aprendi que trabalhar com o que se ama é realmente melhor; mas que não há como fugir dos 'ócios do ofício'. Aprendi a aceitar que existem diversas formas de falar a verdade; mas que [quase sempre] nunca queremos ouvir as verdades inconvenientes a nós. Aprendi que amor se constrói; mas que ele se destrói com o tempo. Aprendi a distinguir que azul é mais bonito que verde; mas que os dois juntos são ainda mais interessantes. Aprendi a perceber que gosto de ir ao cinema; mas que não é bom ir com quem não gosta. Aprendi que ciúme não é bom e não é ruim; mas que, na medida certa, é fundamental.

Eu aprendi que todos somos diferentes; e que não adianta querer mudar os outros. Aprendi que companheirismo é convivência; e que exige um esforço imenso. Aprendi que noite é melhor que dia; mas que colocar um óculos de sol no rosto é sensacional. Aprendi que calça jeans e havaianas combinam; e que a camiseta branca dá um 'toque especial'. Aprendi que não devo me preocupar com o amanhã; mas que fazer planos é estimulante. Aprendi que não gosto de sexo; mas que o toque da pele é gostoso. Aprendi que ser carente não é problema; mas que projetar ela nos outros é confusão. Aprendi que não adianta gritar; e que o silêncio, às vezes, compensa mais.

Eu descobri que quero correr com o tempo; mas tenho medo de não aproveitá-lo. Aprendi que quero viver sorrindo; mas os problemas não deixam. Aprendi que não adianta esperar, e que tudo acontece quando menos imaginamos. Aprendi que um "bom dia" não precisa de resposta; mas que se assim for, ficamos sem graça. Aprendi que surpresas são benvindas; mas que se não forem boas, melhor não tê-las. Aprendi que, apesar dos 'pesares', podemos nos apaixonar; mas que é difícil lidar com as diferenças. Aprendi que para sermos felizes temos que estar com alguém; mas que não seremos se isso for uma necessidade. Aprendi, então, que ficar sozinho é gostoso; mas que é bom ter uma mensagem de carinho, um beijo apaixonado e, quem sabe, uma companhia para todas as horas.

Aprendi a gostar de cozinha; e que cozinhar o que comemos é uma delícia. Decidi que a culinária japonesa é a melhor; mas aprendi que não agrada a todos os paladares. Aprendi que não basta dizer 'eu te amo', e também, que demonstrar é fácil... aprendi que difícil mesmo é manter esse sentimento. Aprendi que posso ler um livro em uma boa viagem; mas que não devo dedicar todo meu tempo a isso. Aprendi que viajar é uma das melhores coisas do mundo; mas que ficar em casa tem as suas vantagens. Aprendi que ir à praia é excelente; mas que passar um dia com os amigos em um clube é tão bom quanto.

Aprendi que ainda não sei nada, e que quero continuar aprendendo. Aprendi que a felicidade, a sorte e os bons momentos são únicos; mas que eles também dependem de nossas escolhas. Aprendi que é necessário carinho, afeto, e que devemos cultivar quem e o que gostamos. Aprendi que a vida é um livro, uma história contada, vivida...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

A minha sina

Eu sou ansioso. Minha mãe é extremamente ansiosa - o que reflete na insônia que insiste em deixá-la cansada e mal. Meu pai é visivelmente ansioso - o que faz com que ele tome seus remédios para dormir. Minha vó é exageradamente ansiosa - o que a tira do descanso vespertino para limpar a casa mais uma vez, ou fazer um biscoito diferente. Tenho amigos compulsivamente ansiosos, que insistem em me acompanhar nos ritmados balanços das pernas, ou nas manias mais características, como roer as unhas ou atropelar as palavras de uma pessoa, que marcam as reuniões em casa, ou a expectativa ao assistir um filme. Definitivamente, quase todos somos ansiosos. Mas isso, nesse momento, é uma coisa que muito me preocupa.

Vazio no estômago. Coração batendo rápido. Medo intenso. Aperto no tórax. Transpiração. Ao ler um pouco sobre o que é em si a ansiedade, percebi que ela é uma característica biológica do ser humano, que antecede momentos de perigo real (ou imaginário). Ser ansioso é uma característica inerente a nós, que insistimos em esperar, imaginar, desejar, projetar... O telefone que toca lá longe, no quarto, me traz um aperto no coração. A ligação do chefe da Redação me deixa preocupado. Os planos para o final de semana são detalhadamente acolhidos. A espera de uma mensagem, ou recado, me fazem ficar preso àquilo, somente aquilo. A percepção que tenho disso, na maioria do tempo, é natural, é intrínseca.

Quando menos esperamos, as coisas se aproximam, chegam e se apossam. Como devo agir mediante responsabilidades delegadas em tão pouco tempo, e de tamanha relevância? O fato nem é a preocupação de que se 'darei ou não conta do recado', mas sim se conseguirei atingir ou superar as minhas próprias expectativas. Ao conversar com uma amiga o quanto estou preocupado, escuto um breve elogio, um 'empurrão' para enfrentar com coragem e confiança a nova etapa. Tenho comigo o fato de que realmente não precisaria de nenhuma palavra. Às vezes [quase sempre], a única coisa que precisamos é de ser ouvido, ser acolhido. Não tenho medo das novidades: o novo é um desafio, uma busca, uma superação; algo que fará com que me sinta melhor.

Ainda assim, me sinto ansioso, nervoso, quase todo o tempo - e não é uma coisa patológica. Não vivo a ansiedade só quando surgem novidades, ou algo muda e foge do meu controle. Eu sou naturalmente nervoso. Cada página de um livro que passo, a cama se balança mais, a testa fica fortemente enrugada e a expectativa é notavelmente percebida. Seja ao acordar, ao passar do dia, ao deitar; a ansiedade insiste em me acompanhar, e eu levo-a comigo todo o tempo. Ser ansioso, no final das contas, é a minha sina - é a sina de qualquer um de nós.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Retratos da liberdade

Ninguém é mais escravo do que aquele que se considera livre sem o ser. (Goethe)

Liberdade. Substantivo feminino, com um significado forte e com um histórico presencial. 'Faculdade de fazer ou de não fazer qualquer coisa, de escolher. Independência: conquistar a liberdade'. Outro dia, comecei a pensar os vários sentidos que essa palavra carrega, e por acaso, em uma longa e cansativa espera na sala de um consultório médico, li o artigo de Lya Luft na Veja sobre esse mesmo assunto, e comecei a me questionar a credibilidade do real valor que ela nos traz - ao longo da vida.

Temos a vaga sensação de que somos donos das nossas escolhas, e que tudo que fazemos é reflexo de uma vontade e decisão nossa. Ledo engano. A vontade de comer o Big Tasty mais tarde é guiada por uma parcela de valor imposta pela propaganda: 'O grande matador, do tamanho da sua fome'. Golpe baixo; realmente, a minha fome é enorme, quase todo o tempo. A compra daquele cachecol novo, ou daquele Mocassim chique é determinada, também, pela beleza que se enxergou quando o modelo apareceu maravilhosamente photoshopado naquela revista famosa. "Cachecol preto que combina com sua camisa: 60 reais. Mocassim branco-gelo na promoção imperdível: 79 reais. Aquela outra camiseta listrada maravilhosa para uma próxima saída do outro final de semana ainda: 115 reais. Óculos gigantes combinando com seu rosto redondo: 189 reais. Baladinha no final de semana: 100 reais. Continuar consumindo desmedida e compulsivamente: Não tem preço". Malditos cartões de crédito.

'Direito que alguém se arroga: tomar a liberdade de contradizer uma pessoa. Liberdade de opinião, de pensar, direito de exprimir cada um de seus pensamentos, suas convicções'. Fala sério! Vai dizer à sua amiga que você não concorda com o fato dela sofrer pelo ex-namorado, que não se importa com ela. Vai falar para os seus pais que tatuagem não é coisa de "maloqueiro". Vai dizer à sua avó que o Roberto Carlos não é o melhor cantor do mundo. Diga ao colega que aquela foto está muito photoshopada. Tente dizer a uma pessoa que você não acredita naquilo que ela defende piamente. É um dever, às vezes, se relacionar bem com quem se gosta. O direito, transformado no oposto, carrega consigo uma carga pesada, um fardo que chega a ser exagerado.

'Liberdade natural; direito que o homem tem por natureza de agir sem qualquer constrangimento externo'. Complicado. Complicadíssimo, para falar a verdade. Nesse ponto, entra a questão do preconceito, dos tabus, dos (pré)conceitos formados ao longo da vida, e mais um tanto de poréns. A vida em sociedade exige que eu me porte de uma forma, que algumas vezes, não condiz com aquilo que realmente quero fazer ou falar. Aos olhos dos outros, o 'diferente' é chocante; chega a ser repulsivo. Como devo agir para não ser taxado, para não ser apontado? O jargão 'cada um cuida da sua vida' vai, totalmente, por água abaixo.

'Maneira de agir com audácia: tomar liberdade com qualquer pessoa'. Acredito, apesar de tudo, que os conceitos de liberdade, no final, são ditados por nós. São contradições que se complementam, e que determinam o motivo de sê-las. Vou tomar a liberdade de continuar agindo da forma que me convém, mantendo, melhorando... tudo de acordo com aquilo que quero. Como tudo na vida, as diferenças se contrapõem e todos somos guiados por escolhas próprias. Repetitivo, cansativo, monótono. As palavras óbvias aqui ditas são reflexos da liberdade que tomo de falar com audácia: eu não te dou a liberdade que não quero que tenha. "A nossa liberdade termina quando começa a liberdade do outro".

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Os meus tratos

"Se tratássemos do que é importante para o Brasil com a mesma seriedade e paixão que tratamos o futebol, este país seria outro." Essa foi a frase que Rafinha Bastos, famoso jornalista do CQC, deixou registrado no Twitter no início da tarde de hoje. Foi o pontapé inicial que estava precisando para começar a falar um pouco dos vários âmbitos que englobam essa questão. Não a questão do futebol, ou da política em si, somente, mas também das nossas escolhas, das nossas atitudes e, principalmente, das nossas prioridades. Seriedade e paixão são dois sentimentos, duas posições que motivam o ser humano. Se tratássemos nossas vidas regidos sempre por estes dois quesitos, com certeza, este país seria outro.

Tudo começa por nós! É clichê e repetitivo ouvir e falar que 'as melhorias de tudo nesse mundo parte do individual'; "faça a sua parte, que já estará fazendo o suficiente para melhorar a sua casa, o seu bairro, a sua cidade, o seu país" - não jogue lixo na rua, não ande muito de carro, não ofenda o próximo - mesmo que o outro o faça. Seja a diferença! Não é difícil, então, perceber que tudo na nossa vida é determinado pelas prioridades. Não trato as questões políticas com a mesma seriedade e paixão que trato as discussões de cinema, por que, realmente, estou descrente dessa roubalheira, dessas confusões, dessas mentiras. Vê-se, como exemplo determinante, o movimento #ForaSarney. Quantas pessoas aderiram a ele? Quantas pessoas se preocupam realmente com o que está acontecendo no Senado? Quantas pessoas sabem o quanto isso nos atinge, o quanto é próximo?

E não vamos longe - vou citar exemplos mais próximos, mais pessoais! Nada [n-a-d-a!] no mundo, com toda minha pequena experiência de amores, decepções e vivências, justifica o fato de uma pessoa se amar menos do que ama o outro. Qual a relação com o que tenho falado até agora? Simples: trato com paixão e seriedade aquilo que me compete também. Nós não deveríamos sofrer tanto por alguém que nos traiu algumas vezes, que nos trocou, que não nos respeitou, enfim, que não nos ama de verdade. Falta paixão por si próprio... falta ponderar a razão e a emoção. E eu nem sou racional, quando se trata de sentimentos; mas eu sei o quanto devo cuidar de mim, o quanto devo ser prioridade ao me relacionar com qualquer outra pessoa.

'Chorar faz bem! Sorrir mais ainda!' Como eu vou me preocupar com a política, se a coisa anda tão feia, e eu nem me preocupo comigo mesmo? Como eu vou cuidar daquilo que acredito estar tão longe, se eu não sei cuidar nem dos meus relacionamentos, tão próximos? O futebol, pelo menos, relaxa, não é cansativo, não é monótono, não é burocrático. Mas, ainda assim, eu poderia aprender a lidar melhor com minha paixão, com meu empenho, com a minha disposição. Se parássemos para pensar, poderíamos mover o mundo [pelo menos o 'nosso' mundo] se fôssemos sérios ao fazer as nossas escolhas, ao agirmos e ao caminharmos nas direções certas. Não temos porque fugir disso! Basta tratarmos corretamente as questões que, de fato, são importantes. E eu nem sou ninguém para falar isso... mas, (in)felizmente, é comprovado!

Depois disso, depois de nós, de nossas pessoalidades, aí sim, quem sabe?, possamos, realmente, dar cabo das outras questões que tanto são, também, preocupantes. Olho para mim, agora, e percebo o quanto falta para o Brasil melhorar. Quero cuidar de você; mas ainda tenho que cuidar de mim!