quinta-feira, 9 de julho de 2009

A minha sina

Eu sou ansioso. Minha mãe é extremamente ansiosa - o que reflete na insônia que insiste em deixá-la cansada e mal. Meu pai é visivelmente ansioso - o que faz com que ele tome seus remédios para dormir. Minha vó é exageradamente ansiosa - o que a tira do descanso vespertino para limpar a casa mais uma vez, ou fazer um biscoito diferente. Tenho amigos compulsivamente ansiosos, que insistem em me acompanhar nos ritmados balanços das pernas, ou nas manias mais características, como roer as unhas ou atropelar as palavras de uma pessoa, que marcam as reuniões em casa, ou a expectativa ao assistir um filme. Definitivamente, quase todos somos ansiosos. Mas isso, nesse momento, é uma coisa que muito me preocupa.

Vazio no estômago. Coração batendo rápido. Medo intenso. Aperto no tórax. Transpiração. Ao ler um pouco sobre o que é em si a ansiedade, percebi que ela é uma característica biológica do ser humano, que antecede momentos de perigo real (ou imaginário). Ser ansioso é uma característica inerente a nós, que insistimos em esperar, imaginar, desejar, projetar... O telefone que toca lá longe, no quarto, me traz um aperto no coração. A ligação do chefe da Redação me deixa preocupado. Os planos para o final de semana são detalhadamente acolhidos. A espera de uma mensagem, ou recado, me fazem ficar preso àquilo, somente aquilo. A percepção que tenho disso, na maioria do tempo, é natural, é intrínseca.

Quando menos esperamos, as coisas se aproximam, chegam e se apossam. Como devo agir mediante responsabilidades delegadas em tão pouco tempo, e de tamanha relevância? O fato nem é a preocupação de que se 'darei ou não conta do recado', mas sim se conseguirei atingir ou superar as minhas próprias expectativas. Ao conversar com uma amiga o quanto estou preocupado, escuto um breve elogio, um 'empurrão' para enfrentar com coragem e confiança a nova etapa. Tenho comigo o fato de que realmente não precisaria de nenhuma palavra. Às vezes [quase sempre], a única coisa que precisamos é de ser ouvido, ser acolhido. Não tenho medo das novidades: o novo é um desafio, uma busca, uma superação; algo que fará com que me sinta melhor.

Ainda assim, me sinto ansioso, nervoso, quase todo o tempo - e não é uma coisa patológica. Não vivo a ansiedade só quando surgem novidades, ou algo muda e foge do meu controle. Eu sou naturalmente nervoso. Cada página de um livro que passo, a cama se balança mais, a testa fica fortemente enrugada e a expectativa é notavelmente percebida. Seja ao acordar, ao passar do dia, ao deitar; a ansiedade insiste em me acompanhar, e eu levo-a comigo todo o tempo. Ser ansioso, no final das contas, é a minha sina - é a sina de qualquer um de nós.

4 comentários:

Riccardo Joss disse...

Adorei a mudança. Não tenho idade pra ler fundo preto. Beijo.

Ana Flávia Alberton disse...

Também gostei da mudança.

E aaaai, como eu sou ansiosa.
Muito. Juro que estou aprendendo a controlar.

beijos

Pedro Felipe disse...

A espera de uma texto seu, me faz ficar preso àquilo, somente aquilo! Escreva sempre. Sou extremamente ansioso, muito mesmo, tento controlar e muitas vezes não sei o que fazer.
Ah, gostei do novo formato do blog.

Vinicius disse...

ânsias ansiosas... quem não as teve ainda, anseia por tê-las logo! :)