sexta-feira, 31 de julho de 2009

As escolhas na contramão

Ações, complementações, vivências, experiências, filtro. A vida é feita de escolhas, e nós utilizamos as nossas vontades da forma mais simples e prática que conseguimos. Se eu quero ir à sorveteria no meio da tarde, eu arrumo um jeito e vou. Se eu quero dormir mais cedo, eu nego todos os convites e caio na cama. Se eu quero sair para dançar, eu saio e me distraio ao máximo. Se eu quiser aceitar um convite para jantar, não penso nem duas vezes. Se quero viajar no final de semana, convido alguns amigos e vou. Se quero visitar meus pais, me viro em três e consigo tomar o rumo. A questão é: As nossas escolhas dependem de nós, apenas de nós. Mas aí começo a pensar: o quanto isso é verdadeiramente dessa forma?

Em um tempo bem remoto, cheguei a aceitar convite de amigos para as baladas exageradas e rotineiras mesmo sem querer. Saí da cama no meio da madrugada para cuidar do conhecido que tinha saído do boteco bêbado. Viajei para o interior para agradar meus pais, mesmo tendo a oportunidade de fazer outra viagem. Sorri para o amigo triste, mesmo querendo chorar. Me calei diante da vontade do outro. Passei por cima de princípios e valores para tentar agradar. Proferi palavras infames, mesmo não me sentindo à vontade. Falei o que você queria ouvir, apenas para te ver satisfeito. Eu carreguei o peso nas costas, e deixei os outros leves, soltos e tranquilos. Eu briguei por ideais que não eram meus. Eu me fingi forte, para não incomodar. Eu enfrentei tempestades, e me fiz fortaleza. Eu engoli vespas, e não consegui digeri-las.

Sei que não é só comigo, e que tudo na vida é fase. E me remeto a isso com uma segurança de novos tempos, de vontades iguais e de sonhos compartilhados. E volto ao foco resumindo: muitas vezes, eu fiz o que os outros queriam, exigiam, esperavam, e deixei meus limites de lado. Não acho que isso tenha sido de todo ruim, ou até mesmo que seja um problema. Mas sei que hoje vejo as coisas diferentes, e por um ângulo mais calmo, mais seguro, mais sensível. Faço o que quero, e faço com vontade. O sorriso é mais sincero, o coração é mais calmo, as pessoas se sentem mais próximas, menos preocupadas, e eu me torno completamente alegre.

Aí entra a questão contraditória, e até mesmo complementar. Eu ainda 'abro mão' para algumas coisas, ou para todas. Mas abro mão com a consciência de que eu me sentirei bem com aquilo, e que é realmente o que quero fazer. O amigo que me convida para ir à boate matar a saudade, ou jogar conversa fora e rir das situações ganha minha companhia, mesmo estando cansado e preferindo uma noite de sono. Se meu companheiro quer ir à boate uma, duas ou três vezes por semana, eu serei um excelente companheiro, porque abro mão para ver ele satisfeito, e porque sei que isso refletirá em mim. Se minha amiga quer que eu deixe de ir a algum lugar porque ela quer minha companhia, não penso nem duas vezes; "estou com ela e não abro"! Se o sol está escaldante na manhã de quarta-feira e o convite para o clube é feito, saio da minha confortável cama para aproveitar algumas horas de diversão.

Com isso, vejo o quanto é importante viver; viver de verdade. Como é bom abrir mão de preceitos, vontades e comodismos para acompanhar uma pessoa querida, um amor, um amigo, a família. Como é bom ganhar novos ares e renovar das maneiras mais improváveis possíveis. Como é bom dar um voto de confiança e se jogar, arriscar, cair, levantar. Como é bom abrir mão do dia a dia, do mau tempo, do conflito, do cansaço, da preguiça. Como é bom ser notado, ser reconhecido e ter com quem contar. Como é bom ver o sorriso de gratidão, de bom senso e de acolhimento. Como é bom saber que se é útil, querido, escolhido, lembrado. Como é bom abrir mão das mazelas, e dos erros. E eu continuo com a certeza de que sempre abrirei mão para o que for preciso...

3 comentários:

Pedro Felipe disse...

Fazer alguém feliz é muito bom, portanto abrir mão de algumas coisas é gratificante, triste é notar no final que não valeu a pena. Ah, não considere isso, ultimamente ando meio decepcionado...
Mais uma vez você considera detalhes tão simples, porém bastante significativos, o que fornece uma leveza e uma reflexão simplismente maravilhosa!!!
Continue a escrever...
É tão bom!

Riccardo Joss disse...

Tá precisando abrir a mão de alguma coisa pra irmos ao Rochinha. ;´-(

Goiano38 disse...

Vida! em cada etapa da vida valorizamos e focamos em algo diferente, com o tempo é isso que acontece, vemos que nem sempre precisamos nos desdobrar para que ostem de nós, os verdadeiros amigos simplismente gostarão. por ser muito observador vc consegue ver o que muitas vezes deixamos passar em brancas nuvens, por isso te adiro cada dia mais. maravilha de testo!!