sábado, 27 de junho de 2009

Eu já fui perfeito!

Com o passar do tempo, começamos a enxergar as coisas de maneiras cada vez mais diferentes. Nada mais óbvio do que isso, claro! Mesmo assim, é bom pararmos para pensar, às vezes, nessas coisas. Um dia na praça, algumas horinhas na sorveteria, uma visita surpresa, as tardes no clube, as reuniões regadas a filmes de terror e pipoca, os dias da natação, o patins, a bicicleta [rara, depois de um acidente] e a leitura de um bom livro durante a tarde são coisas que vão ficando escassas, raras, quase 'não existentes'. Até mesmo as viagens, que eram sagradas. Cada feriado, férias, final de semana que se aproximava, a diversão era garantida. Definitivamente, tínhamos tempo para nós. Tínhamos tempo para aproveitar a vida [e reitero o significado da palavra a-pro-vei-tar].

Em uma tarde monótona [se é que dá para chamar uma tarde em uma redação de jornal de monótona], cansativa e estressante - daquelas que tenho citado com frequência -, ao conversar com um 'amigo virtual', eu ouvi a seguinte pergunta: "Para qual time você torce?". Estávamos conversando há algum tempo, há mais de umas cinco ou seis horas, mais ou menos. E quando já tínhamos falado de (quase) tudo, eis que surge a pergunta. Mais do que de prontidão, fui logo respondendo: "Eu não torço por time nenhum. Por quê?". E digo isso sem medo de ser repudiado mesmo. Para ilustrar, recordo-me que mais cedo quase fui linchado da redação ao dizer que não sabia que o Brasil jogaria contra os EUA amanhã e, para piorar, que a seleção iria sequer jogar amanhã. Como quem quisesse consertar, ainda soltei um "ah, é verdade, amanhã é jogo do Brasil contra o Peru". De onde eu tirei isso, eu não sei... mas o fato é que as funções do jornal têm me deixado sem tempo para outras coisas; ou para quase tudo. Não que isso justifique a falha.

Ao responder o porquê da pergunta, esse meu amigo disse: "Por que se você torcesse para o São Paulo, você seria perfeito". Pronto! Bastou essa frase para minha cabeça começar a funcionar, e para eu voltar àquela nostalgia que insiste em me acompanhar nos últimos tempos. Ao contrarresponder a sua afirmação, eu disse que isso não era bom, e não era ruim, porque eu poderia torcer para qualquer time que eu quisesse, dependendo da situação. [Me desculpem os torcedores fanáticos, que amam o futebol e veneram seus times. Isso vai além de qualquer vontade minha].

Nesse momento, eu me enchi de lembranças e comecei a acompanhar um raciocínio que é maravilhoso. Lembro-me como se fosse nos dias de hoje, a época de futebol do colégio - sim, eu arrisquei a jogar na zaga e cheguei a defender o time da escola no gol em um campeonato local, os famosos Jogos Colegiais - "Frangueiro", "Perna de pau" eram os nomes mais bonitinhos que eu conseguia entender. Mesmo assim, eu não deixava que me intimidassem. Mas essa nem é a questão. O fato é que, como nos dias atuais, os amigos vêm, vão, mudam, conservam-se, mantêm-se, fortalecem-se, afastam-se; e naquela época não era diferente, (in)felizmente. Naqueles 'remotos' tempos, eu cheguei a torcer pelo Corinthians, porque o meu melhor amigo também torcia; defendi o São Paulo como o melhor de todos os tempos, por que o meu novo melhor amigo defendia-o; gritei pelo Vasco, porque o melhor programa para a quarta à noite era reunir a turma para cruzar os dedos juntos. Eu passei por uma gama de clubes.

Olha que coisa legal: antigamente, torcer por algum time era um pré-requisito para ser de uma turma, ou mesmo apenas para ser descolado e ter assunto para conversar na hora em que todos só falavam disso. E eu nunca gostei de futebol. Nunca! Toda minha história pregressa prova que as minhas passagens pelo futebol foram sintomas, imposições, desenvoltura, lábia. A verdade é que, um dia, nesse conceito de definições e vivências, eu cheguei a ser perfeito!

5 comentários:

Cairo Roberto Gontijo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cairo Roberto Gontijo disse...

Ótimo texto Rodrigo! Não acho que torcer por um time seja essencial. Talvez o que faltava era o seu amigo não ter time ou pelo menos não ter essa exigência para ele te considerar perfeito! Logo, o problema estava na concepção das idéias dele e não na sua pessoa!
Ah... já ia esquecendo! Amanhã tem jogo entre Brasil vs Perú sim! Mas é pela liga mundial de futsal, e o jogo será em Anápolis! heheheh

André Pupulin disse...

Nota do amigo virtual: belo texto! :D

Pedro Felipe disse...

Primeira vez no blog e encontro um texto que transpõe realmente o que senti um dia (não torço por time algum!), o que hoje já não mais me preocupa. Quase sempre sou acometido pela nostalgia, creio que isso seja comum, mas nesse caso outros motivos são responsáveis por tal. Gostei muito do texto!

Unknown disse...

Quanta saudade Rô!! Que delícia ter participado de alguns desses momentoss!! Estou adorando o blog...ah, já ia me esquecendo rss...tb não sou torcedora de time algum kkkk !! saudadess